JANUÁRIO GARCIA

A Rede de Produtores Culturais da Fotografia no Brasil lamenta profundamente a partida de Januário Garcia, grande fotógrafo, referência na luta antirracista e documentação das lutas do povo negro no Brasil. Nasceu em Belo Horizonte em 1943 e desenvolveu sua carreira no Rio de Janeiro.

Incansável militante do Movimento Negro, realizou fotos que marcaram gerações. Iniciou sua carreira como fotógrafo profissional na década de 1970, fotografou para vários jornais alternativos da época e, prestou serviços como free lancer para a grande imprensa começando pela Tribuna da Imprensa e, com o tempo para as demais redações: O GloboJornal do BrasilO DiaA NotíciaRevista JB e algumas publicações da Editora Bloch.

Desenvolveu uma extensa carreira no campo da publicidade e se notabilizou na produção de inúmeras e icônicas capas de discos dos mais importantes músicos brasileiros, desafiando todas as barreiras que um fotógrafo negro encontra no mercado profissional para conquistar seu espaço. Destacou-se na produção de imagens de capas extremamente criativas e inovadoras, tais como “Alucinação” de Belchior; “Muito” de Caetano Veloso; “Urubu” de Tom Jobim e incontáveis outras com a sua assinatura. 

No ano de 1975 se aproximou do Centro de Estudos Afro-asiáticos da Universidade Cândido Mendes e percebeu que ali estava sendo escrita uma nova história na sociedade brasileira. Passou a frequentar as reuniões e a fotografar os encontros e atividades do Movimento Negro. Essa documentação fotográfica passou a ser seu trabalho pessoal e ao mesmo tempo sua ferramenta de participação na luta e na história do Movimento Negro Brasileiro. Atuou como presidente do Instituto de Pesquisas das Culturas Negras e foi membro do Conselho Memorial Zumbi.

Organizou várias exposições sobre temas sensíveis à memória de pessoas escravizadas. Nos brindou com livros de sua autoria sobre a cultura afro-brasileira: “Ano Internacional dos Afrodescendentes: Valorizando a Imagem das Mulheres Negras Brasileira”, 2011; “Diásporas Africanas na América do Sul – Uma Ponte sobre o Atlântico”, 2008; “25 anos do Movimento Negro – a saga da luta negra no Brasil no período de 1980 a 2005”, em 2006; “A História dos Remanescentes de Quilombo do Estado do Rio de Janeiro – A Verdade que a História não Conta”, 2002. Suas fotos constam ainda de inúmeras publicações de outros autores sobre a cultura brasileira.

Em sua luta, sempre enfatizou a importância do resgate e valorização da memória do povo negro e a necessidade de se recontar a História do Brasil sob outra ótica, que insira a sua participação. “Nós conhecemos a história do caçador, mas na hora em que o leão começar a escrever a sua, a coisa vai mudar. Nós estamos começando a escrever a nossa história”. ….”Existe uma história do negro sem o Brasil. O que não existe, é uma história do Brasil sem o negro”, discorria com convicção.

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